terça-feira, 22 de junho de 2010

Velhos são os trapos...

Todos nós temos presente na nossa consciência que sempre que nos encontrarmos numa situação de doença grave e debilitante poderemos recorrer ao serviço de urgência da nossa área de residência… mas até que idade é que vale a pena fazer isso? Ai está uma pergunta a fazer aos gestores e administradores das unidades de saúde espalhadas pelo país. Existem episódios que nos marcam enquanto profissionais de saúde e um deles levantou-me esta questão.
Num dos turnos que realizei, transmitem-me as informações acerca de um senhor com 85 anos, que recorreu ao serviço por dor abdominal generalizada desde há 8 horas, falo com o senhor e ele está perfeitamente lúcido e cooperante, mesmo estando imerso em dores fortes.
Este senhor aguardava decisão da Medicina Interna, de forma a estudar o seu problema e decidir o encaminhamento a dar e exames a realizar. O turno de 8 horas passou, com uns analgésicos administrados a este senhor pelo caminho, que não conseguiam anular completamente a dor. Fui para casa e voltei passado 24 horas, quando cheguei o senhor, que ainda se encontrava no serviço de urgência, encontrava-se agora no S.O., monitorizado, com alguma instabilidade hemodinâmica, uma grande diminuição do estado de consciência, com oxigénio e com uma expressão de dor na cara que me revelava o resto. Aguardava ainda decisão e tinha finalmente uma Ecografia Abdominal a realizar… o resultado deste exame revelou que o senhor necessitava de uma intervenção cirúrgica urgente ao abdómen, pelo que foi passado para a responsabilidade da Cirúrgia. A Cirúrgia assumiu a responsabilidade passadas mais 6 horas e ao olhar para o exame e para o senhor concluiu que dada a idade e o estado do senhor não seria realizada a cirúrgia uma vez que existiam grandes probabilidades de o doente não sobreviver à mesma.

Este senhor à entrada no serviço era perfeitamente autónomo, vivia sozinho sem ajudas, tinha a sua rotina diária e não tinha nenhuma doença crónica apesar da idade…

O funcionamento do Serviço Nacional de Saúde não permitiu que as coisas acontecessem de forma diferente, algo que se verifica frequentemente…

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